PROPRIEDADE: CASA DO CONCELHO DE ALVAIÁZERE
DIRECTOR-ADJUNTO: CARLOS FREIRE RIBEIRO
DIRECTOR: MARIA TEODORA FREIRE GONÇALVES CARDO
DIRECTOR-ADJUNTO: CARLOS FREIRE RIBEIRO

O flagelo dos incêndios

31 de Julho de 2022

Na segunda semana de Julho, de um dia para o outro, o país acordou em sobressalto com o crepitar das chamas no concelho de Ourém que de imediato alastraram aos municípios vizinhos de Alvaiázere e Ferreira do Zêzere, depois a Pombal e Ansião, com uma voracidade inaudita, deixando um desolador rasto de cinzas e de destruição por onde passou.

Habitações, oficinas, arrecadações, colheitas, animais, alfaias agrícolas e veículos automóveis não escaparam à sua insaciável voracidade, para já não falar das hortas, pomares, vinhas, olivais e floresta que foram abocanhados num ápice e que eram determinantes para a sobrevivência dos seus esforçados proprietários.

Os meios, humanos e materiais, de combate depressa se revelaram insuficientes e incapazes para estancar a tragédia que se adivinhava e que tantos prejuízos haveria de causar às populações residentes nos locais e povoações flagelados pelo fogo que, durante mais de uma semana, nunca deu tréguas aos seus combatentes.

Parece-me, contudo, da mais elementar justiça deixar uma palavra de reconhecimento pelo empenho e determinação colocados no combate ao tórrido inimigo a todos quantos, abnegada e esforçadamente, o combateram, a começar pelos Bombeiros.

As TVs acompanharam a tragédia em directo e mostraram à exaustão as terríveis consequências das chamas, bem como a frustração, o desalento e a revolta de todos quantos por elas se viram ameaçados, em si ou nos seus haveres, muitos dos quais acumulados ao longo de uma vida de duro trabalho e desaparecidos num instante. Chamaram especialistas e comentadores para análise da situação e os políticos apareceram a dar conselhos de bom comportamento mas, indiferente a tudo e todos, a voracidade do fogo seguia em frente, devastadora e cruel.

Em 2017, após o trágico incêndio de Pedrógão Grande, os responsáveis políticos vieram a público afirmar que os erros então cometidos não voltariam a repetir-se. Cinco anos depois, com apenas uma excepção, o (re)ordenamento e planificação florestal estão por fazer. As comunicações de emergência melhoraram, mas a articulação do comando operacional de combate continua a não ser pacífica e a floresta, ano após ano, continua a arder. De permeio surgem alguns entendidos a insinuar que os principais responsáveis são os proprietários que não limpam os terrenos, fazendo tábua rasa ou ignorando se os mesmos, na maioria idosos com reformas mínimas, têm ou não recursos para isso e se tal limpeza, efectuada imperativamente até ao final de Março, ainda mantém eficácia a partir de Junho quando, tradicionalmente, começam os fogos.

Uma coisa é certa, não há fogos sem intervenção da mão humana, seja negligente ou criminosa, e Portugal, comparado com os países do sul da Europa, é o país que contabiliza mais ignições por cada 1000 habitantes, sendo seis vezes superior a Espanha e 19 vezes superior à Grécia.

Conhecido o diagnóstico e estudada a problemática, o que falta fazer para prevenir efectivamente este flagelo com tendências de progressivo agravamento face às alterações climáticas? Falta uma política integrada de prevenção que envolva e mobilize todos os agentes interessados e possibilite aos proprietários algum retorno do investimento na floresta ou, nas palavras do arquitecto paisagista e estudioso desta temática, Henrique Santos, “falta economia”.